Outro dia, li um livro sobre cavalos marinhos.
e me lembrei de um tempo em que
eles moravam dentro do meu shampoo,
com brocal e lantejoulas.
Vez ou outra, caíam na minha mão
ou espetavam inesperadamente meu pé.
Eu chorava se algum deles, por descuido,
fosse pelo ralo, mas quase sempre
era a alegria quem ensaboava meus cabelos
e minha cauda de sereia,
até que algum trovão gritasse lá de fora
que era hora de desligar o chuveiro
e eu virasse gente novamente.
até o banho do dia seguinte.
Mas, entre um banho e outro,
aconteceu um dia que
os cavalos marinhos sumiram
do meu shampoo,
brocal virou purpurina
e a alegria escorreu serena pelo ralo.