Outro dia, li um livro sobre cavalos marinhos.

e me lembrei de um tempo em que
eles moravam dentro do meu shampoo,

com brocal e lantejoulas.

Vez ou outra, caíam na minha mão
ou espetavam inesperadamente meu pé.

Eu chorava se algum deles, por descuido,
fosse pelo ralo, mas quase sempre
era a alegria quem ensaboava meus cabelos
e minha cauda de sereia,

até que algum trovão gritasse lá de fora
que era hora de desligar o chuveiro
e eu virasse gente novamente.
até o banho do dia seguinte.

Mas, entre um banho e outro,
aconteceu um dia que
os cavalos marinhos sumiram
do meu shampoo,
brocal virou purpurina
e a alegria escorreu serena pelo ralo.

rotina

Escreve, escreve, escreve.
Todos dizem.

está você diante do papel.
crê na tinta da caneta.
vê a voz que ela desenha na página a

espera de algum sentido,
crente do leitor que
verdade há de imaginar,

espelho da vontade que
cresce a cada dia, a cada
verso arriscado no

escuro do que vem a ser.
crédito concedido por mil almas
velhas amigas,

escondidas nos livros, nos conselhos
cretinos que nunca foram mesmo dados.
verde jogo para ver se colho,

escolho.
crematório de palavras.
vento ideias para longe feito

estrela que
cresce para já morrer, feito
vela.

Espanto
Estranho
Escrevo